[VOCÊ ENTENDE DE TAXÍMETROS?]
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Não é novidade que existem tramas mais originais que dois homens respirando e compartilhando verbos na bancada de um bar. E no fim, terminam no banheiro do andar de cima, atracados e colecionando imundices. Gosto do tesão que fede. Metáforas são abstratas, mas eu preciso que você saiba onde fui parar. Eu segurava um candelabro, duas velas apagaram quando você brotou na minha frente. Eu disse alguma fala clássica como a filha do Rei que não pode dar para o homem que quer. Eu te provoquei. Você sabe. Te aceitei como meu inimigo. O dossel caiu no chão junto com a parte da minha roupa, eu estava muito mais nu do que você podia ver. Vontade de foder. As palmas das minhas mãos marcavam o capitonê. Vontade de foder. As paredes canônicas do castelo não conteriam nossa literatura. Foi brutal, Rei Arthur. E eu gosto assim. Eu sei que você combateria qualquer invasor, mas tivemos que ir antes que eles aparecessem. Nós éramos nossos próprios invasores. Não, esse texto não terá metáforas fálicas envolvendo espadas. Até porque eu não conheci sua espada, só senti as juras feitas pela bainha da tua calça. Virei uma poça d’água. Arthur, me desculpe pela forma que imagino. Era só um banheiro meia-boca, e eu aqui tentando transformar tudo isso em fábula. Mas, não é mais legal assim? O beijo elevou minhas propícias ilusões.
Dá um gole nessa megalomania enquanto eu tiro sua bermuda.
Verborragia perigosa essa tua, Arthur. Eu abri minhas pernas, te estendi meus pecados, perdi a forma humana. Virei bicho. Agora eu uivo todas as noites esperando que você goze na minha boca. O cavalo de troia do nosso encontro foi aquele beijo, pareceu um dilúvio. Saiu arrastando todos os advérbios, predicados e adjetivos. E seu sorriso me fodeu. Você tem um sorriso que fode. Tropeçamos naquele cubículo vermelho, quase não me recordo como, mas lembro do que senti. Senti pressa. É que mais indignas que promessas não cumpridas, são promessas que nem chegaram à forma de promessa. Teu pau me prometeu voltar. Febril como estava, foi assim que interpretei. É…meu amigo, constatações anais podem soar como ladainhas, mas podem nos virar ao avesso quando viram literatura.
Se te interessa saber, a vida não começou naquele primeiro e último beijo. A vida também não terminou ali. O tempo seguiu, sofri alguns assaltos, a poeira cobriu a estante de livros do mundo, fiquei preso em casa tomando vinho barato. E eu continuei repetindo, agora da minha janela, que teu pau me prometeu voltar. Fiquei atolado nas minhas próprias fábulas, declarei falência. Foi um momento tão curto, mas tão longo. É assim que as coisas são né? A gente ama, e depois que precisa esquecer parece que o amor durou pouco demais perto da várzea que fica entre o perder e o precisar esquecer. Mas, chega de analogias que não sejam sobre o seu pau. Seu parque de diversão pousou em mim, mas eu não tive tempo de brincar. E quando o mundo se encerrou eu fiquei preso naquela varanda, fumando cigarros, me masturbando e enlouquecendo. Nós somos nossos próprios invasores.
Arthur, eu vou embora pra Hungria. Meus vizinhos me expulsaram daqui depois que vomitei no corredor e esqueci de limpar. Já tenho cigarros e um discman pra suportar a viagem. O taxímetro parece estar me enganando, olho fixamente e não entendo como ele se movimenta. Eu ia te ligar pra perguntar se você entende de taxímetros, mas o que eu queria saber mesmo era da promessa. Da promessa que teu pau me fez. Mofei no limbo dessa obsessão. Não é novidade que existem tramas mais originais que dois homens respirando e compartilhando verbos na bancada de um bar. E no fim, terminei fodido por um sorriso, com uma mala de mão indo pra Hungria, enquanto o mundo acaba. Arthur, será que lá tem corredores pra que eu possa vomitar? O desespero das ruas me adoece. Mas a fábula sobre teu pau me restabelece. Você entende de taxímetros? Quanto será que fica um desvio até tua casa?