[TOTALMENTE PROSAICO]

Fellipe Tavares
2 min readDec 26, 2022

--

porque você não escarra em mim mais uma daquelas suas perfeitas teorias sobre a beleza do mundo? mas eu te imploro que desapareça logo em seguida, some antes que eu comece a explorar as esquinas na missão de te esquecer.

vai, diz que eu fico melhor arruaçante, agitado, ansioso, escrevendo prosa demencial, bebendo com todos meus amantes na mesa de um bar, me oferecendo e pedindo dinheiro ao primeiro que me dá o mínimo de atenção, fazendo aquela cara de bilhete-premiado.

mastiga e cospe na minha fuça o resto da gasolina da tua boca, diz pra mim que foi de propósito que você me tirou das quatros paredes, das quatro estações, dos quatro pontos cardeais, de quatro? de quatro mesmo?

diz que eu sempre fui maluco, mas hoje eu tô de parabéns, isso…bate palma pra mim!

toma o fim da minha bebida, o último gole, grita meu nome ai na tua rua, me trata assim na terceira pessoa, finge que eu fui importante pra construção de quem você é, diz que o meu pior te fez ser melhor, que clichê ridículo.

me suga com esses olhos de cão, depois cospe…mas cospe com vontade.

no meu estômago existem dois galos de briga que se arranham na disputa pelo espaço, eles percorrem os músculos que me governam e não alcançam a cabeça, essa minha cabeça aqui em cima.

sinto pânico do caminho que escolhi, logo esse, com infinitas ladeiras e dúvidas e pouquíssimas verdades. mas eu gosto que seja assim.

não suporto que seja assim.

solidão, cara…é solidão. porque você acha que tô te enviando este áudio?

mas voltando pra onde eu tava, é solidão cara…

solidão que me transporta da sala pra cozinha, da cozinha pro nada. averigo cada canto desse ringue como se não conhecesse minha própria casa, fujo da investigação de mim. não estou fingindo não me ouvir, só perdi o vocabulário que sustentava os meus conflitos.

o modo operante das partidas é sempre igual, foi assim que você foi embora…pegadas viradas para o fim da ladeira.

o fim é de onde vim e muito longe do lugar que vou, desafogo esse ciclo nesse meu jeito louco, erguendo o megafone que me rege e declamando discursos longos, medíocres, pedantes, patéticos, forçadamente líricos e propositalmente estéticos.

quem assusta a vida sou eu, ela permanece como é, mas se foi ela que me fez assim teimoso, tem que existir perdão pra mim.

eu quero ser perdoado, eu quero descanso, eu quero tempo. eu quero menos do que sinto e mais do que quero. menos do que aguento, mais do que falta.

e todos esses problemas são só meus. talvez eu consiga domar essa matilha selvagem que pulsa neste meu pequeno corpo, e logo depois disso, eu me perdoe por esse comportamento. sinto as pernas frouxas, sabe? sinto que estou dançando no campo minado dos pisos deste buraco que me enfiei.

--

--