[O BEIJO QUE ANDO ESPERANDO]

Fellipe Tavares
2 min readMar 26

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Esse tempo me espaça desse você-meu, mas me aproxima do você-você. Eu preciso aprender a diferença pra te tratar como o meu pior inimigo ou como o amável padeiro que me conhece pelo tom do bom dia. Eu gosto desse você que é meu, mas prefiro o você que você é longe da minha tresloucada cabeça. Esse espaço me ensina sobre o que é dar espaço, é que eu sempre fui aquele carro sem freio que nunca fez curva e atropelou tudo que tinha no caminho, até você erguer esse muro. Não consegui atravessar o muro. Deu perda total no carro que me dirigia e eu tive que aprender a andar a pé, andei a pé ao seu lado. Naquela confusão brasileiríssima da 25 de março, naquele restaurante famoso de qualidade questionável, naquela final em que torci, no jogo não me liguei, só torci pra gente vencer. Ou que pelo menos fosse um 5x4 pra você e o meu quinto gol seria interrompido pelo elevador chegando no térreo e aquela moça de sorriso amarelo nos dando boa tarde. Boa tarde, eu disse. Me despedi do beijo que não chegou, seu rosto chegou atrasado e eu não consegui organizar minha loucura. Beijo é uma questão, mas pra quem não é? Sério, todo mundo espera o beijo do casal que se odeia. Todo mundo vibra com um beijo inesperado. Trepada todo mundo conta como se fosse um papo de ponto de ônibus, mas beijo? Beijo merece figura de linguagem, todas elas juntas. Pesquisa aí: figuras de linguagem. Todas cabem no conceito de um beijo. Eu amarrei os dois cadarços do meu tênis e fico pulando igual um canguru pela cidade, estou em busca do beijo que vai desamarrar esse nó e me mostrar que as coisas não precisam ser complicadas desse jeito. Mas pra mim é, sempre foi. E eu vou respeitar minhas teimosas complicações, até que elas se diluam e eu possa rir de toda a complexidade que projetei no beijo que esperei. No próximo elevador, talvez eu vá até o quarto mais alto, pra dar tempo da minha loucura se olhar no espelho, meu ar compreender o ritmo do meu corpo e minhas articulações combinarem a coreografia que vai me fazer chegar até você. Até sua boca. Eu vou te beijar. Eu vou desatar esse nó. Eu vou dançar em cima dos nossos medos.

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